sexta-feira, janeiro 26, 2007

muzik


Já não me interessam canções de amor
Nem baladas toscas
Basto-me.
Queimei todos os livros absurdos
Que me levavam para junto de ti
aqueci os meus pés nessa fogueira
que também foi o princípio. Da tua morte.
Cravei pontos finais por todo o corpo
para não haver nenhuma parte esquecida
que me lembrasse de ti
Atei as mãos. Mordi a boca.
Fiquei a ouvir-me respirar
Imaginei-me no corpo. de uma bailarina
Mas por pouco tempo
Gosto deste bocados em que estou deitada
e pouco mais à minha volta
O aquecedor. um cigarro. Apagado. Nos meus dedos
Uma voz qualquer. Mais gasta que a minha. de preferência
Detesto os dias!
Estou sempre á espera que passem depressa
E depois chega a noite.
E passa depressa demais.

Voltei a ver-te hoje
Foi como se voltasse a ver o céu depois da cegueira
Meses e meses. Uma cegueira.
Os meus olhos curvados na ausência
Na morte de um mundo. onde habito
vi-te hoje. Também me viste.
Ouvi-te cantar. Olhavas para mim
Como se nada tivesse acontecido
E fosse a primeira vez
não consigo dormir. Tenho o coração cheio.
tenho uma ruga no canto da boca
De me forçar a não sorrir
De me forçar a ser outra
que não sabe de nada. Não sente.
não ouve as tuas canções
Nem espera mais

E respiro para me provar
Que ainda estou aqui!

Bah bah bah. Ba b aba bah

terça-feira, janeiro 23, 2007


Lentes embaciadas por suspiros em flecha
pesam-me os ombros e a vontade. de pintar as unhas
Não vejo as cores
tremem-me as mãos ao escrever
só mesmo este fumo para conjugar o equilíbrio numa só distracção
A de não estar aqui.
Canso-me de olhar para os lados. encosto-me para trás
procuro as palavras mas
tenho os óculos embaciados
uma nuvem na minha cabeça
que insiste ficar.
Hoje tenho uma certeza
A de não querer acordar amanhã.
Dormir todo o dia e fingir que não estou aqui. Ou disfarçar bem.
Outro cigarro ardido . não me trouxe nada de novo.
Ainda mais peso nos meus ombros.
E uma vontade de voltar a olhar para os lados
onde se deitam as palavras. que me fogem
á procura
-Não me faças escrever mais! Não aguento estar consciente.


"Já que não fui talhado para escrever grandes ficções,
passei a vida a escrever um livro apenas:
o de todos os amores impossívei."

J.Jorge Letria, in Já Bocage Não Sou

sábado, janeiro 13, 2007

good morning sunshine


Tenho um espelho à minha frente
Consigo ver outra de mim
Consigo ser duas
A que vejo à minha frente
E a que me coça a cabeça neste momento
A que sente o frio
E a que não para de pensar em ti
nunca. e quase nunca.
deixo de pensar
Tenho saudades do beijo
que ainda há pouco me roubaste
E de todos os outros
que a minha boca não foi capaz de travar
E outra vez o fumo. para não me esquecer
Para não me lembrar
Para me fazer infeliz
ou qualquer coisa mais
e mais que tudo isto
doem-me as costas
Estalam sempre que me mexo
gritam por mim nesta agonia
neste silêncio
Porque na verdade, tudo o peço
É que um tormento me abale
Uma tempestade de angustias
Qualquer coisa menos que eu
Que me distraia
E me ocupe parte deste tempo
Em que me deito sem conseguir dormir
Em que me cerco de pensamentos
e palavras. que eu nem consigo compreender
Qualquer coisa. como a tua boca
em forma de beijo. sorrindo para mim

quarta-feira, janeiro 03, 2007



'
Quis-te todos os dias e nunca te pude ter nenhuma
noite. Para falar baixinho por debaixo dos lençóis e brincar
ás escondidas dentro dos guarda-roupas.
E, no entanto, foi bom ter-te por perto tão longe e ouvir
a tua voz e ver os teus olhos ternos e doces. Sou como o
pião que tem de girar constantemente e quando pára cai aos
trambolhões pelas escadas a baixo.



Gostava de ter estado contigo fechado num quarto frente
ao mar durante muito tempo, que a comida chegasse de
balão, que não houvesse telefonemas nem do céu nem do
inferno e tratasses de mim como quem cuida de um doen-
te que não ignora o nome da doença. A doença dos piões
que teimam em girar, girar, girar perto de escadarias altas.
Lembras-te? Fica bem. Não te esqueças que gosto de ti há
muito tempo.

(...)'


in asfixia by Pedro Paixão