quinta-feira, março 29, 2007

um poema quase ficcionado


"

Eu vejo-te beber numa fonte com minúsculas
mãos azuis, não, as tuas mãos não são minúsculas
são pequenas, e a fonte é em França
donde tu me escreveste aquela última carta e
que eu respondi e nunca mais soube nada de ti.
tu costumavas escrever poemas sem sentido sobre
ANJOS E DEUS, todos em maiúsculas, e tu
conhecias artistas famosos e a grande parte deles
eram teus amantes, e eu escrevi-te de novo, tudo está bem
continua, entra nas suas vidas, eu não sou ciumento
pois nunca nos conhecemos. estivemos perto um do outro em
Nova Orleãns, pouco tempo, mas nunca nos conhecemos, nunca
nos tocámos, e tu continuaste com os famosos e escreveste
sobre os famosos, e, claro, aquilo que descobriste
é que os famosos estão é preocupados
com a sua fama – não com a jovem e bela rapariga que está
na cama com eles, que lhes dá aquilo, e depois acorda
de manhã para escrever em maiúsculas poemas sobre
ANJOS E DEUS. nós sabemos que Deus está morto, eles
disseram-nos, mas ao ouvir-te deixei de ter certeza. Talvez
fossem as maiúsculas. tu eras uma das melhores
poetas femininas e eu disse aos editores, “ela, publiquem-na,
ela é louca mas é mágica. “nenhuma mentira no seu fogo”.
Eu amo-te como um homem ama uma mulher que nunca tocou,
que só lhe escreve, e guarda dela poucas fotografias. eu teria te
amado mais se tivesse sentado num pequeno quarto
a enrolar um cigarro e a ouvir-te mijar no quarto-de-banho,
mas isso nunca aconteceu. as tuas cartas ficaram cada vez mais tristes.
os teus amantes traíram-te. rapariga, escrevi mais tarde, todos
os amantes traem. mas isso não ajudou. tu disseste
que tinhas um banco onde ias chorar e era junto a uma ponte e
essa ponte era sobre um rio e tu sentavas-te lá todas as noites
e choravas por todos os amantes que te tinham magoado
e esquecido. eu escrevi-te de novo mas nunca
obtive resposta. um amigo escreveu-me e contou-me
do teu suicídio, 3 ou 4 meses depois de acontecer. se eu te tivesse
conhecido provavelmente seria injusto contigo
e tu comigo. foi melhor assim."



charles bukowski. an almost made up poem


versão de manuel a. domingos

domingo, março 25, 2007

pufff





toda a gente fala daquilo que lhes apetece falar

uns dizem tontarias. outros mais que isso

e outros não dizem nada. uns falam do coração

outros da vida e das horas que custam a passar.

outros. não dizem nada. nem mais que isto.


e eu. há já muito tempo que não me apetece

dizer nada

quinta-feira, março 22, 2007

.


como escrevo sempre depois do limite. da hora

nunca é o dia que devia ser

mas que importa. é o que é para mim

e portanto tanto faz se é 21 ou 3

ou o dia das mulheres danadas

este dia é o que eu quiser. que ele seja.

quarta-feira, março 21, 2007

schhhh





It was a cold windy night

(but only outside)


segunda-feira, março 19, 2007

.


"Devias estar aqui rente aos meus lábios

para dividir contigo esta amargura

dos meus dias partidos um a um"

(...)



Eugénio de Andrade



and the sweetest taboo

domingo, março 18, 2007

easygoing



papel que me cortava a boca

entalado num suspiro
angustiado. aborrecido.
que nem me apetece lembrar

e portanto vou fazer outra coisa

vou esperar um dia em que acorde
e me consiga mexer

sem ter que ver o tempo a passar
e me levante. sem espinhos na língua
e seja tudo. outra coisa.


vou deixar de me forçar

pffft pffft pffft


ando há muito tempo preocupada com outra coisa qualquer



(ás tantas até volto a pensar que sou artista)

quinta-feira, março 15, 2007

ás vezes











ás vezes ponho-me assim de frente
para mim
mas nem por isso me vejo. melhor

quarta-feira, março 14, 2007


"
Também este crepúsculo nós perdemos.
Ninguém nos viu hoje á tarde de mãos dadas
enquanto a noite azul caia sobre o mundo.

Olhei da minha janela
a festa do poente nas encostas ao longe.

Ás vezes como uma moeda
acendia-se um pedaço de sol nas minhas mãos.

Eu recordava-te com a alma apertada
por essa tristeza que tu me conheces.

Onde estavas então?
Entre que gente?
Dizendo que palavras?
Porque vem até mim todo o amor de repente
quando me sinto triste, e te sinto tão longe?"



Pablo Neruda

,


já não me sento
não espero
não começo
nem acabo
fico-me só. pela lembrança
do teu corpo
encostado ao meu

quarta-feira, março 07, 2007

...


Já não esperam que as chame
deslizam. Solitárias. uma por uma.
gotas de sal
aterrando no vazio
do meu peito. cansado.
São feitas de carinhos
desfeitas. de saudade.
Seguem-se por entre suspiros
e vão secando nas minhas mãos

Desabafos!

hoje acordei assim
na companhia da minha tristeza

..


De novo o silêncio
na minha cabeça
Tantas vezes me acordo
para me tornar dormente
Tantas vezes nada!

e nunca sei onde deixo
as palavras