quinta-feira, maio 29, 2014




Farta de ouvir a porta
E ser sempre um outro andar
As chaves que se balançam nas mãos apressadas
De chegar
Sempre um outro andar.
A luz que se acende no prédio
E eu vejo, com o peito em alvoroço
E espero. e continuo sentada. Aqui.
A porta a bater. O meu peito
Todas as chaves são tuas
O ruído. Não me deixa esquecer
A dor. De mais uma batalha perdida
e nem se devia chamar assim.
Eu ainda espero
Como o senhor do livro, que chega sempre amanhã
E quando chega amanhã. já é hoje.
E deixa de ser amanhã
Os meus olhos estão secos
Mas oiço o sangue a correr
como uma barragem acabada de ser solta
Presa ao cimento. de outro rio desviado.
Também eu quero poder dormir
esquecer. Deixar de ouvir.
a porta.
Nunca chega a abrir
Aí! Tão farta de ouvir as portas
as outras portas. e as chaves
que são sempre tuas...
Preciso voltar a mim
Abrir a janela. Adormecer o ouvido
Esquecer. Por períodos
mais longos
Passar de me esquecer de vez em quando
Para me lembrar. algumas vezes
da ternura dos meus cabelos. que se alongam
E se enrolam. no meu pescoço. nas minhas orelhas
Como se me tentassem proteger
De todas as chaves e todas as portas
e todas as luzes que se acendem
No prédio.

farta. de ouvir.

segunda-feira, maio 26, 2014

O vento que não pára de soprar no meu ouvido
O vento que me quer fazer quieta. Prender-me as pernas.
Sopra-me no ouvido. Murmura gemidos de fome. Dores passadas
Prende-me as pernas. Sinto a cabeça tonta e o mundo todo a girar
Como uma roda gigante numa feira abandonada.
Sinto-o
No meu ouvido e nas minhas pernas
No meu cabelo. Estendido no sofá
O meu estendal de penas. Molas perdidas
Rostos cansados.
Não pára de soprar
Faz eco. No meu vazio
Noutro copo amargo que insisto
Em desculpar.
Mais uma folha arrancada de um livro
já sem capítulo
Mais um copo. Amargo.
Que teima em velar as minhas noites...

Vento. Que me deixa doida. que não pára.
de soprar

sábado, maio 10, 2014

Um outro ano
sem a minha incapacidade
virei para a pintura
as palavras magoam mais que tanto
que me sinto menos incapaz envolta em cores
outros sons
baladas que me poupam os pulsos
e os pés tranquilizados. fazem arco iris todas as semanas

volto e encontrar o meu sorriso
volto a perde-lo
e deixo o tempo passar

amanhã é outro dia
e só hoje. hoje tenho sede
depois são restos
os pulsos poupados


momentos de quase
incapacidade
que agora afogo. e deixo em banho maria
para voltar quando me apetecer

tatuada disto
:)

mm

nestes dias compridos
começam cedo. acabam ainda mais tarde.
picam o ponto a horas tontas e trocam-me o sono
deixam-me a boca morta. os pés mascarados.
a vida de pernas para o ar.
o meu peito aberto. arrancado
força de uma força que não tenho
Dias em que acordo também eu mascarada
de um azul com que pinto os olhos
para desafiar as cores do céu
esse maldito! atormentado.
não me deixa dormir...

as unhas por pintar e o copo,
quase vazio
quase nada que devo voltar a ocupar
com mais gotas disto mesmo
mais sombras que se sucedem nas minhas paredes
de tijolo
outro furo. outro parafuso.
mais um quadro que não fixou
e outra espera...

dias. que nunca parecem reais
que são passagens de outros. de passagem.
onde eu nunca encontro lugar. sentada.
com os pés novamente em ferida
e as costas voltadas. á dor.
de mais uma viagem
de pé!

penso em dormir e revolto-me
com todos os ruidos lá fora. estes gritos.
cá dentro
esta mania de fazer de conta...

mais um copo vazio
nestes  dias.
assim.
quase chuva