quinta-feira, maio 29, 2014




Farta de ouvir a porta
E ser sempre um outro andar
As chaves que se balançam nas mãos apressadas
De chegar
Sempre um outro andar.
A luz que se acende no prédio
E eu vejo, com o peito em alvoroço
E espero. e continuo sentada. Aqui.
A porta a bater. O meu peito
Todas as chaves são tuas
O ruído. Não me deixa esquecer
A dor. De mais uma batalha perdida
e nem se devia chamar assim.
Eu ainda espero
Como o senhor do livro, que chega sempre amanhã
E quando chega amanhã. já é hoje.
E deixa de ser amanhã
Os meus olhos estão secos
Mas oiço o sangue a correr
como uma barragem acabada de ser solta
Presa ao cimento. de outro rio desviado.
Também eu quero poder dormir
esquecer. Deixar de ouvir.
a porta.
Nunca chega a abrir
Aí! Tão farta de ouvir as portas
as outras portas. e as chaves
que são sempre tuas...
Preciso voltar a mim
Abrir a janela. Adormecer o ouvido
Esquecer. Por períodos
mais longos
Passar de me esquecer de vez em quando
Para me lembrar. algumas vezes
da ternura dos meus cabelos. que se alongam
E se enrolam. no meu pescoço. nas minhas orelhas
Como se me tentassem proteger
De todas as chaves e todas as portas
e todas as luzes que se acendem
No prédio.

farta. de ouvir.